terça-feira, 14 de agosto de 2012

O preço alto dos imóveis é culpa das construtoras?

A alta dos imóveis ocorreu devido a um crescimento generalizado nos custos de implementação de um projeto. Ou seja, terrenos, material e mão de obra. O resultado do investimento dessas empresas não retornou para os acionistas, mas sim para a sociedade como um todo. Essa mesma sociedade que se dispõe hoje a criticar e denegrir o setor.

Neste post eu vou discorrer sobre o resultado financeiro das 10 maiores incorporadoras do Brasil*. No gráfico abaixo eu mostro a margem líquida consolidada dessas grandes empresas e é nítido que a margem inicial de 30% apresentada para os investidores não pode ser alcançada nos anos subsequentes devido a alta dos insumos. A margem líquida é a porcentagem que sobra para a empresa depois de deduzir os custos dos empreendimentos e da empresa.



Um fator relevante para a queda das margens foi o aumento do custo dos terrenos, que são a base para se desenvolver a incorporação. É difícil demonstrar com dados o aumento dos preços dos terrenos, mas eu como incorporador sinto na pele a cada dia a alta dos valores pedidos pelos proprietários.   Não somente no aumento do valor em si, mas também pelo custo de financiamento desses terrenos, uma vez que a antiga relação de permuta com os proprietários foi substituída por pagamento em dinheiro.

No vídeo, a pesquisadora Ana Paula Castelo da FGV (clique aqui) apresenta que a evolução real do salário é maior do que o aumento da produtividade. Se paga muito mais por um serviço que é feito de forma somente um pouco mais produtiva. Isso faz com que parte da margem do incorporador seja corroída. E esse aumento do salário real não ocorreu por causa das incorporadoras. Houve uma demanda alta por funcionários para diversos setores da economia de construção civil que não só a de incorporação.

O custo dos materiais também seguiu o mesmo caminho. Muita demanda para obras de infra-estrutura e obras irregulares e reforma. A classe C não compra só TVs de Led, eles também reformam e fazem construções irregulares (os famosos puxadinhos). E pasme, isso consome mais material do que a construção por empresas formais no Brasil.

O custo de se produzir um imóvel no Brasil é muito alto. Como todas as outras coisas por aqui. Então, antes de criticar as empresas lembre-se do gráfico acima. Elas não estão ganhando tanto assim.

*Com base no valor patrimonial apresentado nos balanços de 03/2012

7 comentários:

  1. Eu tenho comigo que o Brasil pertence a um seleto grupo de países que desafiam as leis econômicas. No caso dos custos de incorporação e construção, você diz aqui que houve um aumento generalizado dos custos de implementação, incluindo o custo dos terrenos, do financiamento, dos materiais de construção. Até aqui, o aumento pode ser creditado ao aumento da demanda. Já no caso dos serviços e da mão de obra, se o aumento é superior ao da produtividade, isto deveria produzir de imediato uma paralização dos trabalhos. Se isso não ocorre, significa que quem está pagando mais caro confia que poderá repassar esses maiores custos ao comprador final. E, se não conseguir, realizará um prejuízo, que então deverá compensar com redução da produção, retração da oferta, e consequente aumento de preços. Se o mercado aceita pagar preços mais altos significa que estes não estão tão altos assim, pelo menos no momento presente.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Boa tarde Mário,

      Eu concordo que o Brasil desafia diversas leis econômicas. Mas nesse caso específico essa lei não é quebrada.

      O incorporador vende o imóvel por um preço ficxo e tem 3 anos para entregar. Independente do valor que vai custar. Isso significa que as estimativas de custo foram menores do que acabaram incorrendo.

      Isso faz com que depois de 3 anos os incorporadores parem e repensem. Mas somente 3 anos depois, não é como a ford ou a wolks que o preço aumentou eles desligam as máquinas e dão férias coletivas.

      Abraço

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  2. Concordo com o Mario.

    Martim, se os funcionários da incorporadora estão ganhando muito , isso nao mostraria no seu gráfico , mas mostraria no bolso do consumidor. Deste modo acredito que apenas este gráfico não é suficiente para evitar as críticas . Elas são direcionadas a indústria como um todo, nao só aos acionistas das incorporadoras.

    De qualquer jeito, bom post. Continue o bom trabalho

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  3. Lombas,

    A margem líquida contempla o custo do administrativo das empresas sim.

    Abs,
    Martim Gross

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  4. então quer dizer que eu teria de fazer outra cursa se quisesse tirar o dinheiro que vai para o salário dos funcionários e consequentemente a margem iria cair mais ainda? É isso mesmo ?

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    1. Lombas,

      A margem líquida é o quanto sobra para o acionista. Deduzidos todos os custos, incluindo o custo dos funcionários.

      É o contrário do que você tinha dito.

      Abração,
      Martim Gross

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